CULTURAL E INDÚSTRIA CULTURAL - Osvaldo Lima
A cultura constitui um elemento primordial no processo formativo da humanidade. É através da cultura que são manifestadas a busca dos povos por sentidos para sua existência. Ela é expressão dos anseios, temores, esperanças e perspectivas da humanidade em seu percurso histórico. A cultura representa todo processo que possibilita ao homem sua inserção na história à procura de sua humanização. Somente através da cultura é que o homem pode identificar-se diante do contexto em que ele vai descobre humano, manifestando e configurando sua própria história. Sendo assim, a questão cultural conduz o homem a um reencontro com nossa própria existência, onde há sempre um convite aberto para mergulhar nesta intrigante aventura.
Numa época em que se consome tudo pronto e, parcialmente, digerido, as transformações advindas com o fenômeno do avanço tecnológico e da industrialização incorporaram na sociedade não somente novos recursos – seja o rádio, o cinema, a televisão, o computador ou a internet –, mas também constituíram uma nova forma de representação do mundo. Por certo, não podemos negar que a formação cultural de nossa sociedade está hoje mediada por essas tecnologias da comunicação e informação, que oferecem um labirinto de signos e valores que são absorvidos e incorporados, muitas vezes, de forma acrítica pela população.
Todavia, como compreender a complexidade da existência sem uma estrutura que favoreça tal desenvolvimento para a questão? Como buscar elementos que possibilitem a construção de um sentido para a vida se há um leque de opções, muitas vezes sem fundamentação, sem um esclarecimento sobre a questão?
Diante destas questões emerge um espaço de diálogo com as concepções de Theodor Wiesengrund-Adorno, filósofo frankfurtiano, que apresenta uma série de críticas ao modo como o homem pós-moderno é modelado, incapacitando-o de decidir, de escolher seu próprio caminho. Para Adorno, esta condição seria resultante da relação ambígua entre o homem e os avanços tecnológicos, estando as pessoas resignadas à escravidão de sua própria criação tecnológica.Numa época em que se consome tudo pronto e, parcialmente, digerido, as transformações advindas com o fenômeno do avanço tecnológico e da industrialização incorporaram na sociedade não somente novos recursos – seja o rádio, o cinema, a televisão, o computador ou a internet –, mas também constituíram uma nova forma de representação do mundo. Por certo, não podemos negar que a formação cultural de nossa sociedade está hoje mediada por essas tecnologias da comunicação e informação, que oferecem um labirinto de signos e valores que são absorvidos e incorporados, muitas vezes, de forma acrítica pela população.
Torna-se necessário analisar e compreender como estas novas tecnologias passaram a intervir no processo de formação da sociedade, bem como, quais foram suas influências dentro deste contexto. A propósito, tomando o cinema como exemplo, este trouxe para o âmbito social uma cadeia de interações entre imagens, sons e movimentos, que não somente reproduzem a vida, mas que são propositores de situações, de sentidos, de conhecimento, ou seja, de uma cultura. Ao interferir e alterar os modos e meios de produção de bens – materiais ou simbólicos – estas revoluções tecnológicas acirram ainda mais as contradições ideológicas estruturais do modelo econômico ocidental. Passaram a introduzir novos paradigmas sociais, afetando os hábitos, o comportamento da sociedade. Alteraram o modo de interpretar e representar os elementos da realidade. Propuseram novas possibilidades de manter suas relações sociais. Diante destes fatores, nota-se que a sociedade se vê diante de uma séria problemática: como transitar por estas novas linguagens de forma a potencializá-las para o seu próprio benefício?
Essa condição da sociedade atual é retratada por Adorno naquilo que ele denomina de uma Indústria Cultural. A Indústria Cultural se caracteriza por ser um poderoso sistema de representação que conjuga múltiplas linguagens, em seus mais diversos níveis de complexidade, que interagindo com a arte, com a ciência e com a tecnologia, foram dispostas como instrumentos a serviço da máquina capitalista. Conforme os estudos de Adorno, na sociedade tecnológica, pós-moderna, os meios de comunicação tornam-se uma grande força alienante. Através dela o sistema impõe valores e modelos de comportamento, criando necessidades e estabelecendo uma linguagem. Os indivíduos tornam-se meros consumidores, passivos diante desta força, que tende a não estimular a criatividade e nem elevar à emancipação de cada homem. Ao submeter o indivíduo a um modo de vida melhor, a Indústria Cultural, conforme este pensador, não vincula propriamente uma ideologia: ela própria é uma ideologia, passando a ser fundamental para a perpetuação do sistema.
Este mecanismo alienador proporcionou um estado de barbárie social e que, a cada instante, distancia o homem de suas questões existenciais, afirma Adorno. Sendo assim, esta nova significação atribuída à cultura é que proporcionou um grande empecilho que distancia o homem das principais questões que perpassam a sua própria existência. Para Adorno, é através da Indústria Cultural que o homem pós-moderno vive este paradigma existencial.
(OLIVEIRA, Osvaldo Lima. A INDUSTRIA CULTURAL E A FORMAÇÃO DO HOMEM CONTEMPORÂNEO - reflexões a partir da perspectiva adorniana. Brasília: UCB, 2006, p.7)
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